domingo, 25 de agosto de 2013

Queira, por favor

Se quiser, me alcance antes do sol nascer
Talvez uma garoa na madrugada seja um sinal
De que você irá aparecer

Se quiser, me encontre no fim do túnel escuro
O raio de luz que me fará voltar
Bem poderia ser o seu sorriso, o meu futuro

Se quiser, me abrace até me roubar a respiração
Quem sabe eu desmaie sem ar,
Mas com você por perto não me faltará inspiração

Se quiser... Não, queira sim. É, queira logo
Sem o seu calor, o seu perfume, o seu sabor,
Sei que pouco a pouco na escuridão vazia eu me afogo

Mario Sergio

Subversão do Caminho

Fogo estranho na congregação
Se espalhando pelo campo de trigo

Fumaça asfixiante de incensários degenerados
Se ergue e fica à vista de homens néscios

Roubaram as taças de ouro e os pratos de prata
Quando os guardiães se distraíram com questões fora de hora

Os rebanhos perderam o rumo, saíram do caminho
E se arremeteram contra a porta e despedaçaram o aprisco

O bom pastor ainda chama, busca a ovelha perdida,
Mas os ladrões vêm roubando, matando e destruindo o povo da luz e do sal

Mario Sergio

Iconoclastia

Despedace os ídolos, rapaz
Faça farelo e pó
Estão se interpondo entre aquilo que é real
E aquilo que é sombra sem vida

Despedace os ídolos. Vamos, depressa
Eles querem os holofotes
Não gostam de desprezo
Lutarão com todas as forças pela soberania

Arremesse-os no chão, pise e cuspa em cada um
É uma solução necessária se quiser ver...
Você sabe. Mas ainda assim hesita
Pare, pense e elimine parasita por parasita

Mario Sergio

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Podre

Carne em putrefação
Em cima dos montes,
Na beira do mar,
Vagando tranquilamente pelos bosques

Carne em putrefação
Comprando seus lanches, roupas, adornos mil...
Virando algo ou outro o quê...
Médicos, advogados, faxineiros, garis...

Carne em putrefação
Planejando casórios, velórios, consórcios das Casas Bahia
E tomando aviões pra Londres, Paris...
Busões pra Belo Horizonte, Aparecida do Norte
Ou o bairro mais próximo. Ou lá no fim da cidade...

Carne em putrefação
Que nunca se percebe apodrecer
Pobre coitada que se sente imortal. Que se sente a tal...
Não vê que já chega, já chega o final. E se aproxima ligeiro
Mais uns segundos, minutos, horas, dias, meses, anos e tchau

Mario Sergio

Tão...

Tão doente que o cheiro vaza da carne em necrose
Em nauseantes vapores de desespero e dor

Tão absolutamente irritado que um grão de poeira
Toca o chão e faz um terremoto oito escala Richter

Tão enojado de si mesmo que o próprio reflexo causa vômitos
E as buscas interiormente revelam câmaras cheias de ratos e baratas

Tão amargamente cansado que nem procura mais alívio,
Não há mais travesseiro que o embale nas noites de sombra

Tão acostumado à escuridão que ela se tornou seu habitat
Natural ou sobrenatural... Ele caminha passos enegrecidos

Mario Sergio

Cicuta

Um gole de cicuta pra ver se encurta
O curta-metragem que me está à frente
Dez minutos já é entediante suficientemente

Só um gole, nada mais. Que desça ardendo
Por favor, nada de veneno fino,
Quero um que desenrole logo esse destino
Que teima em me importunar

Mario Sergio

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Jimmy Bolha

Jimmy? Saia da bolha
Eu pego o saca-rolhas
E abro a champanha
Em comemoração por essa façanha

Jimmy! Acorde. O dia está raiando
Lindo mesmo. Mil pássaros cantando...
Não gosta de pássaros, Jimmy?
Eu adoro. E faço com que eles rimem

Jimmy... Há pouco me disseram...
Você está morto, meu amigo? É a notícia que me deram
A sua redoma de vidro te fez tão mal...
Mas você é um cara fino, supimpa, legal

Por isso, Jimmy, ainda creio no seu estouro
Não se assuste, não sou sujeito de mau agouro
Só quero te animar, te fazer quebrar, despedaçar
Essas cadeias que não te permitem voar

Jimmy? Está aí? Venha cá
O sol já nasceu

Mario Sergio