quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Bicho chato

Volta o bicho das noites frias
E me causa mais um pavor
E me transforma mais um pouco o amor
E me cansa com esse falatório besta

Ele está com fome e quer me devorar
Não tem piedade
Não tem compaixão
Não tem nenhuma humanidade

Gostou de mim por algum motivo
Será um amor antigo?
Será um calor amigo?
Será que é só comigo?

Gostou de mim e vem de tempos em tempos
Quando aparece, parece um tufão
Quando fala, estremece a alma e o coração
Quando vai embora... Quando vai embora?

Mario Sergio

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ela não vai desistir, hein?

Corrupção, chaga feia, fedida e mil vezes maldita,
devorou vidas, sugou sonhos até o talo,
riu das feridas, montou nas nossas costas, nos fez mil vezes cavalos,
o que você quer?

Quero dinheiro. Muito. Casas. Não, mansões. Carros de luxo
Mulheres. Sim, muitas. As mais belas e caras
Quero passeios pelo mundo, construir castelos, realeza almejada,
poder ilimitado, mandar, desmandar da forma desejada
É isso o que quero e quero bem mais, não me importo com os outros,
são só animais, e todo animal nasceu pra servir, então que me sirvam,
que me deleitem, que me alimentem! Não vou desistir

Mario Sergio

Perdido

Eu sou um diamante bruto,
um diamante bruto em lapidação cruel
Aparam as minhas arestas com doído cinzel

Eu sou um anjo sem asas, auréola ou lugar no Céu,
preso na Terra por um erro tolo, oculto no Véu
Quem me vê não imagina o quanto eu caí

Antes do nada, eu era tudo, tudo e junto ao Todo,
mas me desgarrei do rebanho e os lobos me abocanharam sem dó

A ovelha negra perdida, esperando o Pastor,
esse sou eu, esse eu sou

Mario Sergio

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ode ao pum

Ele vem quietinho, não faz alarme
Você senta tranquilo, o fundo arde
Você sabe, em breve, o momento fatal
Se estiver numa fila, banco, cinema, hospital,
melhor segurar, o safadinho vai vir sem dó, sem pensar

Ele é um ninja assassino, derruba quatro, cinco meninos
Você conhece suas proezas, não o manifeste sentado à mesa
Você pensa em contê-lo, até se esforça, mas mantem o receio
Se ele for só o apito da locomotiva que vem em seguida,
melhor fechar a barragem, irmão

As moças recatadas dizem que não são seus partidários
Mentira, põem tudo pra fora atrás do armário
Os padres de batina fazem o ar se agitar durante as missas
Tire as velas de sete dias daí, vai nos matar, vai tudo explodir
Os soldados no fronte soltam tantos que ninguém sabe de onde vem o fuzil
Pow, pow, pow, pum, pum, pum, pow, pum, pow, pum, pow, pum

Me emociona lembrar quantos deles pus pra fora num bar
Me emociona dizer que mais vale mil puns sadios do que não fazer
Me emociona escrever sobre o escapamento sagrado
e, enquanto escrevo, solto um pum refinado, bem acabado

Mario Sergio

domingo, 16 de outubro de 2011

Tempo, devolva-me o que me deve

Passe, Tempo, bem depressa
Quero agora aquela hora que espero
Passe, Tempo, ande logo
Não sei se aguento, não sei se aguento

Cada minuto, cada hora, cada dia, cada semana,
Cada instante, cada período é uma era
Que não traz paz, não traz amor, não traz nada

Estou com sono, com frio, com fome e sede
Cadê a cama aconchegante?
Cadê o cobertor reconfortante?
Cadê o prato saboroso do manjar tanto mirado?
Cadê o copo adocicado do vinho puro, desejado?
Cadê, Tempo? Cadê?

Mario Sergio

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Indo e indo e indo

Descendo a ladeira a qualquer hora no sol quente,
pensando na vida e esperando uma morte digna
Talvez um lugar bom pra descançar,
talvez um lugar melhor do que esse lar

Mordendo e sendo mordido por mosquitos sedentos de suor
Escravizado por escravos de coisas valorizadas sem valor
Eu sou mais um andarilho que não pode andar
Eu sou um elefante perdido no meio da manada
Eu sou mais um daqueles que falam, falam, falam e não dizem nada

Mas vou tentando passar uma mensagem de paz, amor e força
Mas vou esperando com um sorriso sem sentido e bobo no rosto
Mas vou indo e indo e indo sem ter onde chegar

Sem ter onde chegar
Sem ter onde chegar...
Sem ter onde chegar?

Mario Sergio